2025 foi durinho. Um ano de perdas que nos deixaram mais pobres enquanto gente, enquanto país, enquanto mundo. Entre os nomes que se apagaram estão Eduardo Gageiro, Aurélio Pereira, João Cravinho, Nuno Guerreiro, Papa Francisco, Arlindo Fagundes, Fernanda Maria…
E depois,
uma tragédia que parou o coração de Portugal: a morte de Diogo Jota e do seu
irmão de vida, André Silva. Dois irmãos que ainda tinham um sonho — o sonho de
voar mais alto, dentro e fora dos relvados.
Diogo Jota,
tão recentemente casado com a Rute, com quem partilhou uma vida inteira de
cumplicidade, desde antes da fama, desde os primeiros toques na bola até à
glória nos grandes palcos europeus. Uma história de amor bonita, simples,
verdadeira, que ficou eternizada naquele “Sim, para sempre” no casamento de
junho. Um amor agora transformado em saudade.
Ao lado
dele, André Silva, uma sombra muitas vezes despercebida do grande público, mas
com o mesmo brilho nos olhos e o mesmo amor pelo futebol. Com apenas 25 anos,
vestia as cores do Penafiel, vivendo cada jogo com paixão, lutando para
construir também ele a sua própria história nos relvados.
Ambos
partiram juntos, na madrugada de uma estrada espanhola, e deixaram um país
inteiro de coração destroçado. Não eram só jogadores. Eram filhos, maridos,
amigos, irmãos. Eram sonhos e promessas. Eram juventude e futuro.
As mortes
destes dois jovens não foram só perdas desportivas. Foram um lembrete brutal da
fragilidade da vida. Um murro no estômago coletivo.
E, como sempre nestes momentos, o país parou. As homenagens multiplicaram-se, os estádios silenciaram-se, as redes sociais vestiram-se de negro. Toda uma nação unida não por vitórias, mas por lágrimas.
Mas há algo
que fica: a marca que deixaram. O talento, a entrega, o amor, o exemplo de quem
luta por um sonho e o vive até ao último segundo.
Quando uma
figura pública parte, o mundo mediático entra inevitavelmente numa espécie de
histeria coletiva. Tudo começa pela comunicação social: um canal dá a notícia
e, dependendo do impacto da perda, ou passa um rodapé discreto ou então para-se
a emissão para dar lugar à notícia que ninguém queria ouvir. No caso do Diogo
Jota e do André Silva, não foi diferente. A notícia espalhou-se como fogo,
interrompendo as rotinas de quem estava em casa, nos cafés, nos telemóveis, e
deixou o país em choque.
Num
instante, o algoritmo das redes sociais ficou saturado: mensagens de pesar,
fotografias antigas, vídeos de golos, de sorrisos, de momentos felizes. As
imagens de perfil de clubes, empresas e instituições escureceram-se, como se o
mundo inteiro entrasse num luto digital coletivo. O FC Porto, como era
esperado, prestou homenagem, tal como as equipas por onde passaram e até
entidades que, sem ligação direta, quiseram marcar presença no adeus.
É sempre
assim quando um ícone morre: surge imediatamente a necessidade de balanço. Quem
foram? O que deixaram? Que impacto tiveram? No caso do Diogo e do André, a
resposta é clara — foram mais do que jogadores. Foram símbolos de humildade, de
perseverança, de sonhos concretizados e de sonhos por cumprir. Foram filhos,
irmãos, amigos, maridos. Eram a promessa de muito mais do que aquilo que o
tempo lhes permitiu viver.
A morte de
figuras tão jovens e tão presentes nas nossas vidas confronta-nos com algo que
preferimos ignorar: a fragilidade da existência. Se até eles, que pareciam
intocáveis, se vão, que dizer de nós, meros espectadores do quotidiano? Esta
consciência atinge-nos com violência, porque ninguém está preparado para ver
partir quem parecia ter o mundo inteiro pela frente.
Seguiram-se,
como sempre, as homenagens televisivas: entrevistas antigas, imagens de
infância, recordações de golos e conquistas. Mas também relatos de quem os
conheceu de perto — amigos, treinadores, companheiros de equipa — que falaram
não apenas do talento, mas da humanidade, da alegria, da generosidade que
deixaram em cada pessoa que tocaram.
E como
acontece sempre nestes momentos, algumas vozes tentaram associar-se à perda,
mesmo que de forma superficial ou pouco genuína, porque a morte de figuras
públicas cria um espaço de comoção onde todos querem ser parte. Mas no caso do
Diogo e do André, a dor era demasiado real, demasiado profunda, para permitir
falsidades. Bastava olhar para os rostos dos colegas de equipa, para os olhos
marejados da família, para perceber que ali não havia espetáculo — havia luto
verdadeiro.
A morte
deles também nos mostrou o outro lado cruel da efemeridade mediática. Porque,
depois do choque, depois das primeiras páginas e das homenagens, a vida
continua. E com ela, o risco de esquecer. Mas há memórias que resistem ao
tempo. E o Diogo Jota e o André Silva não serão esquecidos tão cedo. Porque
deixaram algo mais do que golos ou vitórias: deixaram um exemplo de quem viveu
com paixão, com entrega, com verdade.
No final de tudo, o que a morte de figuras públicas como Diogo Jota e André Silva nos mostra é que, por trás de cada nome, de cada manchete e de cada perfil escurecido, há vidas reais. Vidas com sonhos, com amores, com medos, com falhas. Vidas que, de um momento para o outro, deixam de ser vividas e passam a ser recordadas — nem sempre da forma mais justa ou mais verdadeira.
Vivemos numa era em que o luto se tornou espetáculo, em que a dor se mede em likes e partilhas, e em que até a morte pode ser consumida, partilhada e esquecida à velocidade de um scroll. Mas o valor de quem parte não se esgota num especial de televisão ou num post de Instagram. Está na marca que deixaram nas pessoas, nos gestos simples, nos afetos silenciosos que nunca chegarão aos noticiários.
Talvez o que mais nos assuste, quando vemos alguém partir assim, seja esse espelho que nos é colocado à frente: o de que um dia todos seremos apenas memória. E cabe-nos escolher, enquanto cá estamos, se essa memória será breve ou eterna, se viveremos com verdade ou com medo, se deixaremos algo mais do que um nome perdido num rodapé.
Este texto não teve ajuda de Inteligência Artificial.
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