O Boavista.

Não tenho clube, tampouco gosto de futebol. Acompanho-o, de vez em quando, quando é algo de mais importante, geralmente acompanhado do meu pai. Mas uma coisa é certa – mesmo não tendo clube, há-que reconhecer a importância FULCRAL do Boavista (ou Boavistão) na história do desporto português. E o que se está a passar é de uma injustiça para aqueles que apoiam o clube e que não sabem se se vai reerguer das cinzas anunciadas.

Sendo, por vezes, o 4º grande (por ter títulos na Primeira Liga), o Boavista é o rival direto do Porto – sediados ambos na mesma cidade. Foi fundado um ano antes do Benfica (neste dia, precisamente), sendo dos mais antigos clubes do país ainda hoje existente.

Do único título, fica-se pelas memórias do auge do Boavista - há 24 anos, o título de campeão nacional interrompia a longa ditadura dos três grandes e parecia ser o culminar de um processo de crescimento sustentado, depois das «ameaças» de anos anteriores, das conquistas na Taça de Portugal das décadas de 1970 e 90 e de algumas boas campanhas europeias – incluindo a estreia na Liga dos Campeões.

Adiante no tempo, mais ou menos por volta do Europeu que foi sediado em Portugal, nunca mais se viu o Boavista na Europa. Entretanto, no ano de 2004, o Boavista inaugurava o seu novo estádio, por ocasião do acima mencionado. Foi um passo maior que a perna, confesso. Aí começou o período negro do Boavista, cheio de dívidas, salários em atraso, processos judiciais e mais não sei o quê.

Nem com investidores se conseguiu levantar. A morte estava já anunciada. O Boavista estava apenas em cuidados paliativos, à espera do suspiro final. Mas não conseguiu suportar.

É pensoso para os adeptos, sócios e amantes de futebol. É penoso para o povo português, que tinha no Boavista um clube histórico e consagrado pelo Olimpo do Futebol Português. A morte já estava anunciada pela FIFA, quando não permitiu inscrever alguns jogadores que nem sequer tinham sido contratados oficialmente (por falta de pagamento ao clube que representavam até à altura). Mesmo assim, ainda se aguentava até chegar ao momento fatídico – o atraso na inscrição na Segunda Liga (tinha sido despromovido).

Em Junho de 2025, o Boavista supostamente iria jogar a Segunda Liga de 2025–26 após despromoção direta, mas não conseguiram se inscrever a tempo por falta do comprovativo de pagamento para obter as certidões da Segurança Social e da Autoridade Tributária, sendo então despromovidos administrativamente para a Liga 3 de 2025–26, e para substituir o seu lugar na Segunda Liga, o Oliveirense, 17º Colocado na Segunda Liga na época anterior, supostamente despromovido para a Liga 3, ficou com a vaga do Boavista, mas mesmo assim o futuro do Boavista é incerto, pois caso falhe a inscrição na Liga 3 de 2025–26, o clube terá mesmo de recomeçar do patamar mais baixo, nos Campeonatos Distritais do Porto.

E agora? Agora resta-nos assistir, impotentes, a mais um símbolo a apagar-se lentamente, vítima de erros de gestão, de abandono institucional e de um sistema que parece feito apenas para proteger os mesmos de sempre.

O Boavista pode já não ser o clube das capas de jornais ou dos grandes investimentos, mas é — e sempre será — o clube do povo, da luta, da resiliência. Um clube que ousou desafiar o status quo e conseguiu, por um breve momento, quebrar o ciclo eterno dos três do costume.

É um retrato fiel de tantos outros setores da nossa sociedade: quando os pequenos tentam crescer, são sufocados por dívidas, burocracias e silêncios. Quando caem, quase ninguém os ampara. Ficam apenas as memórias, os cantos na bancada, o cheiro da relva molhada na Rua O Primeiro de Janeiro, e a certeza de que o futebol português perde um pedaço da sua alma.

Resta-nos esperar que, com ou sem Liga 3, com ou sem investidores, o Boavista encontre força para recomeçar. Mesmo que do zero. Porque quem fez história, tem sempre lugar para renascer. E Portugal precisa que o Boavista não morra. Precisamos de clubes assim. Precisamos do Boavistão.

 (se alguém quiser sugerir música de fundo, ponham nos comentários :))

Este texto não teve ajuda de Inteligência Artificial. 


EDIÇÃO POSTERIOR: Este não é um texto de um admirador de Vitor Murta. Condeno todas as ações tomadas pelo ex presidente da SAD, que, para além de um grande corrupto, fez muito mal ao Boavista. 

Apenas quero homenagear o Boavista.

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